sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Mentiras sinceras.

Esta é uma história de ficção. São Mentiras sinceras.




Era comum, gostava de olhar através das janelas e mergulhar em seu próprio mundo, em seus próprios pensamentos. Não gostava de falar, gostava mesmo era de observar os passos, os movimentos. Poucos notavam sua presença, não era bonita, mas aqueles que notavam sentiam-se hipnotizados. Uma hipnose que podia durar por muito tempo. Alguns pela sorriso, outros pelo brilho no olhar. Não se interessava por aqueles que que se interessavam por seus sorrisos apesar de sinceros, ela costumava chorar, e se chorasse estes não entenderiam. Gostava mesmo, era  daqueles que enchergavam através de seus olhos, pois estes brilhariam até em lágrimas. Ela não era triste, chorava de emoção, e de alegria.
O descobriu em um encontro marcado. Nada a atraia mais do que ele. Nada a fazia mais feliz do que seus abraços, do que seus laços. Não ficavam juntos, mas nunca um saiu da vida do outro. Ela o ensinou a amar, embora ela não soubesse ama-lo. Embora ela não soubesse muito sobre nada. Aprenderam juntos..
"E Você por que desvia o olhar?
(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos) 
— Ah. Porque eu sou tímida." (Caio Fernado Abreu)
Um dia se cansou dos seus sonhos de menina e da distância que os separava, foi embora. Ela ficou perdida, um buraco enorme abriu sobre o seu peito, ele voltou. Suas feridas se tornaram cicatrizes fracas que quase não se viam até desaparecer. Conversavam sobre tudo, mesmo que embora ela falasse pouco.
Ela sentia ciúmes. Ele não suportava, ia embora outra vez. Ele queria achar alguém igual a ela. Mas não encontrava. Eles se abraçavam.
Tinha essa mania que as mulheres têm, de sempre querer demais. Queria criar idéias concretas sobre relacionamentos, desejou um filho. Passou a sonhar com ele, o queria tanto, embora fosse tão menina! Ele não entendia. Ele não suportava o silêncio dela. Ia embora, queria conversar! E ela sempre no seu mundo que talvez nem existisse. Ela gostava de escrever, escrevia sobre amor, sobre eles. A deixou de novo. Mas sempre, sempre voltava.
Ela já não era mais a mesma, estava dolorida, cheia de cicatrizes as idas e vindas eram constantes. Mas eles se amavam tanto. Passaram a mentir um pro outro, e desmentiam no final. Quanto mais ele ia embora, quando retornavam, mais cedo os problemas apareciam. Ela reclamava! e reclamava dessa vida, sentia como se fosse a esposa do viajante do tempo.
Ela era inocente e boba, e não entendia que ela estava matando o que mais amava. Não entendia que ele sentia medo de passar o resto da vida lhe ensinando a viver. Até que descobriu isso. Partiu na promessa de que algum dia quando esquecesse os problemas, e se lembrasse o brilho de seu olhar, pudesse voltar e recomeçar. 
Não se tem certeza do amanhã, e do que pode acontecer. Este não é o fim dessa história. Se caso volte ela terá a maior certeza de sua vida. E nada mais será como antes.

Sandy Quintans


"Estas alegrias violentas, têm fins violentos
Falecendo no triunfo, como fogo e pólvora
Que num beijo se consomem"
(William Shakespeare)