quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Não me deixe partir.

Lembro que pensei muito quando Kathy H. disse que não imaginava que vidas tão intrinsecamente unidas poderiam ser separadas tão facilmente. Se referia aos amigos que cresceram junto com ela, Tommy e Ruth, dos quais quis se separar*. Em determinado momento ela decide que era hora de partir daqueles que foram os mais próximos de uma família, já que eram órfãos. 
Continuei pensando em como ela conseguiu. E acabei chegando a como podemos nos ligar a pessoas que tiveram outras vidas. O contrário acontece.  Compartilhar experiências, intimidades, dizer aquilo que nunca diríamos a mais ninguém. Que louca é a vida. E que louco é pensar que agora somos um só. E mais louco ainda: não percebermos como é que tudo acontece. E pensar nisso dói. E cansa. 
Em um dia estávamos vivendo a dúvida sobre o que fazer em relação a nós dois. Não sabíamos definir o que sentíamos. No outro tínhamos a certeza de que havíamos completado um ao outro. Nossos sonhos estavam ligados, nossa rotina, nossas incertezas, nossos corações. 
Assim como Kathy se rompeu, nós nos construímos. Não consigo dizer como acontece. Mas eu tenho a plena certeza de que acontece. A ruptura, mas também a ligação. 

Por favor, não me deixe partir. 

Sandy Quintans

*Kathy H., Tommy e Ruth são personagens do romance “Não me abandone jamais” de Kasuo Ishiguro. Livro do qual recomendo e que me fez pensar muito sobre a vida e relacionamentos. 

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